A recente decisão judicial que condenou o Google por abuso de monopólio em seu serviço de busca ecoa um caso histórico envolvendo a Microsoft, que ocorreu há mais de duas décadas. O juiz Amit Mehta determinou que o Google utilizou sua posição dominante para sufocar a concorrência e inibir a inovação, um veredicto que pode transformar o cenário da tecnologia e afetar profundamente a empresa.
O julgamento, que se arrastou por quase um ano, culminou em uma sentença que reconhece o Google como um monopolista. O juiz Mehta destacou que a empresa detém uma impressionante participação de 89,2% no mercado de buscas gerais, que chega a 94,9% em dispositivos móveis. Essa decisão representa um revés significativo para o Google e sua controladora, Alphabet Inc., que sempre defendeu que sua popularidade se deve à qualidade superior de seu motor de busca.
A condenação do Google é vista como uma vitória para o Departamento de Justiça dos EUA, que iniciou o processo quase quatro anos atrás. O procurador-geral Merrick Garland afirmou que essa decisão é um triunfo histórico para o povo americano, enfatizando que nenhuma empresa é acima da lei. A expectativa agora é que a Justiça determine quais mudanças ou penalidades devem ser impostas para restaurar a concorrência no setor.
O caso contra o Google retratou a empresa como um “bully tecnológico”, que utilizou sua posição para proteger um motor de busca que se tornou central em um império publicitário que gerou quase 240 bilhões de dólares em receita no último ano. O juiz Mehta observou que o Google gastou mais de 26 bilhões de dólares em 2021 para garantir que seu motor de busca fosse o padrão em novos dispositivos, uma estratégia que, segundo ele, prejudica a concorrência.
Embora o Google tenha contestado as alegações, argumentando que os consumidores mudam de motor de busca quando insatisfeitos, o juiz destacou a importância das configurações padrão. Ele citou o exemplo do Bing, que detém 80% do mercado de buscas no navegador Microsoft Edge, sugerindo que outros motores de busca podem prosperar se não forem bloqueados como opções padrão.
A decisão também levanta questões sobre o futuro do Google e suas práticas comerciais. Especialistas preveem que a sentença pode levar a mudanças significativas, como a proibição de acordos de exclusividade que garantem o Google como motor de busca padrão. Isso poderia impactar não apenas o Google, mas também empresas como a Apple, que recebe bilhões em pagamentos do Google para manter essa parceria.
Se a Justiça decidir por mudanças drásticas, isso pode beneficiar a Microsoft, que já enfrentou sua própria batalha antitruste nos anos 90. A condenação do Google pode abrir novas oportunidades para a Microsoft, que atualmente possui um valor de mercado superior a 3 trilhões de dólares, enquanto a Alphabet está avaliada em cerca de 2 trilhões.
Por fim, a longa batalha legal que se aproxima pode atrasar qualquer impacto imediato para consumidores e anunciantes. O processo de apelação pode levar até cinco anos, permitindo que o Google continue operando sob as mesmas práticas enquanto a situação se desenrola nos tribunais. A decisão do juiz Mehta, no entanto, já estabelece um precedente importante para futuras ações antitruste no setor de tecnologia.
